São bastante comuns os casos de ingestão de corpos estranhos pelos animais de companhia. Esses corpos estranhos podem ir desde guardanapos, paus, carroços de fruta, plásticos, brinquedos, fios ou até mesmo pedras. Em alguns casos os objectos ingeridos impedem a passagem total ou parcial de alimentos ou água, provocando transtornos bastantes graves. A ingestão de corpos estranhos lineares (como fios) é bastante comum em gatos aquando das suas brincadeiras. Apesar de terem um volume aparentemente inofensivo a sua morfologia impede o normal funcionamento do peristaltismo intestinal, podendo provocar graves alterações na parede do intestino, o que pode levar a sérias complicações como peritonite. Os corpos estranhos no estômago e intestino podem provocar vários sintomas clínicos, sendo o vómito persistente o mais comum. No exame clínico os animais podem apresentar dor, apatia e dilatação abdominal entre outros. O diagnóstico pode ser feito através de um exame físico se o corpo estranho é palpável, mas geralmente requer outros exames, como radiografias, ecografias ou endoscopias. Por vezes o diagnóstico pode ser bastante laborioso. O tratamento implica geralmente a remoção do corpo estranho, por laparotomia ou por endoscopia e o prognóstico pode ser bastante reservado, conforme se encontre o estado do animal.
CASO CLÍNICO 1
O R. é um cão de 1 ano de idade com vacinas e desparasitações em dia. Os seus donos trouxeram-no ao CVO com a queixa de vómitos há 1 dia, apatia e anorexia há cerca de 3 dias. A sua alimentação baseava-se em ração, não tendo os seus donos notado qualquer alteração nos seus hábitos alimentares. Ao exame físico o Ruanito apresentava bastante desconforto abdominal, sendo tudo o resto normal. Foi realizada uma ecografia, onde foi diagnosticada obstrução total do intestino por um objecto não identificado. Após estabilização com fluidoterapia o R. foi encaminhado para cirurgia, na qual se descobriu que o corpo estranho era um brinquedo de corda com que ele geralmente brincava. Felizmente tudo correu bem, tendo o R. recuperado toda a sua vivacidade e alegria.
CASO CLÍNICO 2
A M. é uma gata Europeu Comum com 10 meses de idade que veio ao CVO referenciada por um colega veterinário que lhe havia detectado um fio pendente da boca, impossível de extrair por rectracção manual. Há cerca de 4 dias que a proprietária a notava mais apática e com falta de apetite, o que coincidia com uns trabalhos que tinha realizado em casa e que envolviam panos e fios. Quando chegou ao CVO a M. havia deglutido novamente o fio. Como os vómitos se mantinham a M. foi sujeita a uma intervenção cirúrgica, tendo-se retirado do intestino delgado um fio com cerca de 2 metros. No dia seguinte a M. recomeçou a comer, estando actualmente bem de saúde.
Em suma, nunca é de mais alertar que é preciso ter atenção a todos os objectos passíveis de serem ingeridos pelos animais de estimação, por forma a tentar evitar acidentes.